segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Tradição onde branco não entra

Dando início a semana na qual Maçambiques comemoram a Festa do Rosário, disponibilizo aqui matéria provavelmente escrita no ano de 2001, mas que acredito ter a encontrado em 2002. Há tempos a procurava em meus guardados e somente neste final de semana, coincidentemente, foi que a localizei.
Ainda no início de minhas pesquisas, sem metodologia, princípios básicos e/ou regras fundamentais, não preocupei-me com algumas informações e cometi a ingênua gafe em não anotar o nome do(s) jornalista(s) responsável(is) pela matéria, tampouco a data real de sua publicação. O jornal, pelo que me lembro, era o Diário Catarinense. Ctrl C Ctrl V + delete foram as ferramentas necessárias para a edição/colagem desta matéria em word e que agora scaneio, transformo em imagem e colo aqui.

obs.: na época, destaquei alguns trechos e tentarei comentá-los agora - se ainda lembrar os reais porquês desses grifos.


"o último grupo de maçambique do Rio Grande do Sul nem sabe direito qual a origem do ritual"

Na época, o grupo ainda não havia passado pela ruptura acontecia em meados dos anos 2000. Hoje, são dois os grupos de maçambique: Maçambique de Osório e Maçambique de Morro Alto. Embora os dois possuam legitimidade histórica, é o grupo de Osório que manteve a continuidade da tradição, sem parar, enquanto o outro passou por intervenção e incentivo da Fundação Palmares para que "ressurgisse".

De qualquer forma, é difícil dizer que este era o último grupo de maçambique do Rio Grande do Sul pois, provavelmente, sempre foi o único. Acredito sim na existência de vários grupos de congadas no Rio Grande do Sul, feito os Quicumbis e os Ensaios de Promessa, sendo "maçambique" a forma como este grupo em específico ficou conhecido.

A origem do ritual se perde no tempo. Talvez, para os que fazem o maçambique, os maçambiqueiros e a comunidade que os abriga, saber desta origem nem importe, pois o que prevalece é a fé em Nossa Senhora do Rosário e a necessidade de continuar o que os seus antigos já faziam.

"durante a festa de Nossa Senhora do Rosário, no segundo domingo de Outubro"

Nesta última década, o que era criteriosamente parte de um calendário (o segundo final de semana de Outubro), passou a variar em virtude de diversos fatores, impostos pela Igreja e prefeitura da cidade, mesmo que ainda se priorize e se mantenha o mês de Outubro. Ao longo da história dos Maçambiques, as datas em que realizam suas comemorações já mudaram algumas vezes.

"nem mesmo os próprios maçambiques sabem bem de onde veio a tradição, qual sua importância e quem eles próprios são".

E precisam? Existe realmente necessidade em saber da sua tradição quando se tem tanto apego, apreço e respeito por sua história e daqueles que os antecederam? Mas, mesmo assim, boa parte de seus integrantes sabem sim da sua história. São os mais velhos que a contam e reproduzem para suas famílias e integrantes mais jovens. E eles a ressignificam, sempre de acordo com o tempo e progresso. É importante dizer também que talvez eles desconheçam a história real da criação do grupo e das congadas no Brasil como um todo, mas o mito da criação é o que em muitas vezes talvez seja mais significativo.

"Mas aqui branco não entra" (trecho não destacado no texto)

É este recorte de fala de Severina Dias, Rainha Ginga do Maçambique de Osório, que dá título a matéria. Uma péssima escolha, pois isolado do texto ele parece um tanto radical e preconceituoso.

De fato, o Maçambique de Osório é uma tradição de matriz africana e preceitos católicos, na qual apenas a Rainha, sua pajem e a alfares da bandeira são mulheres, todas negras. Dançantes, tamboreiros, capitães de espada, todos homens, todos negros. Nos últimos anos, por aproximação e afeto, a presença de dançantes "mais claros" (no caso, um único jovem) se tornou constante, mesmo sendo fato raro.


Logo no primeiro parágrafo da imagem acima, fragmentos do mito de criação do Maçambique.



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