Importante registro sobre as congadas gaúchas, o livro "As Congadas do Município de Osório", lançado no ano de 1945 e escrito por Dante de Laytano, é também o primeiro registro dedicado exclusivamente as congadas do Rio Grande do Sul. Antes, Antônio Stenzel Filho já havia as citado em seu livro "A Vila da Serra - Conceição do Arroio" (antigo nome da cidade de Osório), no qual descrevia os usos e costumes da localidade até o ano de 1872. São estes dois livros, talvez, os primeiros registros bibliográficos que discorrem sobre a cidade de Osório, ambos citando a congada hoje apenas conhecida como Maçambique de Osório. Embora escrito há mais de meio século, o livro de Dante de Laytano é ainda hoje um dos mais importantes registros realizados sobre os grupos de negros gaúchos organizados para as festividades da congada.
Dante de Laytano começa seus escritos contextualizando a formação histórica do município, suas primeiras e pequenas indústrias de açúcar e mandioca, as formações geográficas da cidade e os termos que etimológicamente remetem a influência africana no local. Coloca as congadas registradas no ano de 1945 em "mais ou menos" de acordo com as congadas antigas, segundo testemunhos de pessoas contemporâneas as épocas passadas. Já de início, aponta como provável origem paras as congadas de Osório a segunda metade do século XVIII, pois antes desse período era, na época, difícil de se imaginar uma colonização regular do Rio Grande do Sul.
Não dissertarei aqui (pelo menos por agora) sobre parte importantíssima dos escritos de Dante de Laytano que falam sobre a geografia local e sobre como Osório e outros municípios ao redor estavam estabelecidos, pois muitos fizeram, ao longo de suas histórias, parte de uma mesma e única localidade. Da mesma forma, é importante saber também sobre as relações hereditárias e de parentesco, assim como a posse de escravos por parte dos senhores donos de engenho e latifúndios. Esse entendimento explica, ou pelo menos traz idéias, sobre como as congadas aconteceram - e ainda acontecem, mesmo que de forma diminuta e não em todos os locais de outrora - em vários locais atualmente distintos do Rio Grande do Sul, como Uruguaiana, Rio Grande, munícipios das margens da Lagoa dos Patos, Cachoeira do Sul, Viamão, Rio Pardo, Mostardas, Palmares, Passo Fundo e Osório.
No ano de 1945, as congadas do município de Osório aconteceram nos dias 04, 05 e 06 de Janeiro (período em que muitas manifestações tradicionais do Brasil tem seu apogeu, em homenagem aos Reis Magos - Ciclo de Reis), na própria cidade, com elementos vindos do interior do município, na quase totalidade de negros, embora contando com a presença de alguns caboclos e muitos mestiços (termos utilizados pelo autor), na maioria também mulatos. Atualmente, os Maçambiques de Osório comemoram sua devoção em dois momentos anuais: São Benedito, quando do segundo final de semana de Maio, próximo ao dia 13 (Abolição da Escravatura), no distrito de Aguapés, e em sua festa máxima, em louvor a Nossa Senhora do Rosário, entre o segundo e o terceiro final de semana do mês de Outubro, quando invadem o centro da cidade de Osório e a Igreja Matriz da cidade.
Dante de Laytano descreve uma formação muito semelhante com a que atualmente pratica o Maçambique de Osório, estando a congada, no instante registrado, formada por um Capitão, um suplente de capitão, Rei do Congo, Rainha Ginga, Festeiro, Festeira, dois Guias (primeiros) e dois Guias (segundos), tamboreiros (2), Pagens (4), dois capitães de espada e Dançantes de número variável (18, 24), etc, além do coronel e alferes da bandeira*. Na última Festa do Rosário que presenciamos, no ano de 2010, o Maçambique de Osório estava composto por Rei de Congo e Rainha Ginga, Capitães de Espada (2), guias (2), alfares da bandeira, tamboreiros (2, sendo que um deles é o Chefe-de-Tambor, Faustino Antônio - o grupo esperava que fossem, na ocasião, três tamboreiros, porém o Tio Antônio Néca, um dos mais antigos integrantes do grupo, estava com problemas de saúde em sua família), e uma média de 20 dançantes, quase todos eles jovens abaixo dos 18 anos de idade. Aqui, fica uma dúvida: será o Capitão descrito pelo autor a mesma personagem do Chefe-de-Tambor, porém sem a função de também tocar tambor e apenas dirigir as marchas, danças, cantos e cerimônias? O autor também informa sobre a função de "sentinelas" exercidas pelos Capitães de Espada, com função ainda hoje praticada, conforme descrito em texto anterior aqui publicado, datado do ano de 2002.
(...)
*foi respeitada a grafia conforme o registro original do autor.
por Lucas Luz para FÉsta Produções & Pesquisas em Culturas Populares e Tradicionais.
por Lucas Luz para FÉsta Produções & Pesquisas em Culturas Populares e Tradicionais.
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